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Teoria Donut, já ouviu falar? Como ela pode agregar ao setor de alimentos

Teoria Donut, já ouviu falar? Como ela pode agregar ao setor de alimentos
Samantha Macedo
jun. 11 - 8 min de leitura
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A economista Kate Raworth desenvolveu um modelo econômico baseado no bem-estar humano e ambiental apelidado de teoria Donut, e a cidade de Amsterdã é a primeira do mundo a implantar essa abordagem devido à crise do coronavírus. Entenda essa teoria e suas possíveis aplicações na indústria de alimentos.

Você já pensou se a economia não priorizasse o dinheiro, mas o bem-estar do ser humano? Kate Raworth, economista e pesquisadora na Universidade de Oxford, possui uma teoria que contempla exatamente isso, é a chamada Teoria Donut, traduzido para o português, “teoria da rosquinha”, pelo desenho do modelo (veja imagem abaixo).

O modelo criado por Kate pode ser utilizado por cidades, países, empresas e pessoas que acreditam no desenvolvimento com equilíbrio, sustentável em seu mais amplo sentido. De acordo com a teoria, o nosso bem-estar depende de que cada um de nós tenha recursos para garantir os direitos básicos, como comida, água, saúde, educação, moradia e energia. Mais que isso, o nosso desenvolvimento pleno também depende da saúde do planeta terra. Por isso, ela ilustra esse paradigma ideal da humanidade com a imagem de um donut.

ENTENDA A TEORIA DONUT

Imagem: Amanda Monteiro | Divulgação 

O centro da imagem, considerado o “corpo” da rosquinha, é a dimensão justa e segura, o espaço no qual a humanidade não está colocando pressão no planeta e atendendo às necessidades básicas de cada indivíduo. 

No limite interno da rosca, para dentro do vazio, moram as insuficiências que devem ser melhoradas. São 12 itens estabelecidos de acordo com os objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), como alimentação, saúde e educação.

Já o limite externo da rosca pode ser considerado o teto ecológico que não podemos ultrapassar. São nove itens que envolvem, por exemplo, mudanças climáticas, poluição do ar e destruição da camada de ozônio.

Ou seja, o que se encontra no vazio interno da rosca são as insuficiências, o que precisa ter seu acesso expandido para que todos estejam no espaço seguro. E, no vazio externo, temos os excessos, o que precisa ser reduzido para não causar mal ao planeta Terra.

A economista diz que com esse simples desenho saímos do quantitativo PIB, em que atividades nocivas para o planeta, como desmatamentos, aparecem como positivas por aumentar atividades e, consequentemente, o PIB. Assim, há uma evolução para saber o que deve ser controlado e o que deve ser expandido.

“A ideia é ir além do Produto Interno Bruto (PIB), porque não dá pra resumir a situação de um país em uma cifra só. Ainda mais porque o PIB não mede a desigualdade, ele só mede a velocidade da máquina. Ele não mede o que a gente produz, para quem a gente produz, e com quais impactos ambientais” - Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC-SP.

A TEORIA DONUT E CORONAVÍRUS

Amsterdã é a primeira cidade no mundo a adotar a economia Donut. A vice-prefeita Marieke van Doorninck e a economista Raworth deram entrevista para o jornal britânico The Guardian. Raworth diz que o cenário que se formou em decorrência da crise do coronavírus é propício para a aplicação de sua teoria.

"Quando, de repente, precisamos nos preocupar com clima, saúde, empregos, moradia, assistência e comunidades, existe alguma estrutura que possa nos ajudar com tudo isso? Sim, existe, e está pronta"- Kate Raworth.

Um exemplo das mudanças que a dupla pretende fazer diz respeito à moradia. Em Amsterdã, quase 20% dos inquilinos são financeiramente incapazes de cobrir suas despesas básicas depois de pagar o aluguel. E apenas 12% dos quase 60 mil solicitantes conseguem os benefícios dos programas de moradia social. Assim, empregando-se a teoria para solucionar o problema, não bastaria apenas construir casas, mas que os materiais para a construção possam ser recicláveis e que tenham uma base biológica, como a madeira, contribuindo assim para um ciclo virtuoso. 

E COMO FICARIA A ROSQUINHA NO SETOR DE ALIMENTOS?

Em palestra para o TED Talks, uma série de conferências para disseminação de conteúdo, Kate interroga “e se cada empresa, quando fizesse estratégia de negócios perguntasse: a nossa marca está na rosquinha? O centro do nosso modelo de negócios é ajudar a trazer a humanidade para um lugar seguro e justo entre suas fronteiras planetárias e sociais, ou pelo menos não lucrar ao excluir pessoas da rosquinha”. Assim, para as indústrias se ajustarem a este modelo, seria necessário pautar os seus produtos em três pilares: sustentabilidade, acessibilidade e saúde. Portanto, o donut no setor de alimentos pode ser previsto assim:

  • Buraco interno da rosca: para a diminuição do alicerce social,  há a necessidade, primeiramente, de prover acesso aos alimentos básicos para a garantia desse direito humano fundamental. Também deve se levar em conta que uma das bases do bem-estar é a saúde. Então, não basta ser acessível, precisa ser nutritivo. E, como indústrias de alimentos, temos um papel social importante nesse aspecto, que envolve iniciativas de apoio a instituições, parte solidária, mas mais do que isso, se cada um de nós olhar o nosso negócio sob o aspecto da teoria Donut, já estaremos contribuindo para que isso aconteça, gerando empregos, etc.

 

  • Centro da rosca: aqui se encontram os desejos do consumidor, a que podemos atender. Sabor, indulgência, ser premium, ser fit, exercer seu posicionamento de marca, conversar com seu público, mas sempre com atenção à sustentabilidade. O WHOLE FOOD INOVATTION pode ser uma ótima estratégia para isso . No centro da rosquinha estão todas as ações com as quais nos preocupamos 90% do tempo, e que bom que elas podem continuar a coexistir, mas desde que nós olhemos para o meio e para fora também, senão, em breve, a rosquinha pode ser destruída. 

 

  • Para fora da rosca: aqui se encontram expectativas do consumidor com alimentos mais convenientes. Sabemos que no mundo moderno a praticidade é algo importante, entretanto, devemos levar em conta também as necessidades do planeta Terra, e não só os desejos dos consumidores. Assim, por mais que o cliente demande essa conveniência, tal atitude acabará impactando negativamente o planeta e ferindo os valores do modelo Donut.

Exemplo: muitas pessoas querem frutas lindas e morangos o ano todo, mas se para atender a esse desejo preciso usar mais agrotóxico do que o permitido ou fazer com que os morangos viagem o Brasil todo para chegar à minha fábrica, é melhor não viabilizar essa opção, pois, ao final do processo,o dinheiro que entrou não pagou essa conta.

A Rosquinha não nos traz as respostas, mas é uma maneira de lembrar que estamos todos conectados a diversas questões e que precisamos buscar cada uma das respostas. 

“Não podemos continuar sobre as mesmas estruturas com as quais estávamos acostumados. Não é apenas uma maneira hippie de olhar para o mundo." disse a vice-prefeita de Amsterdã, em entrevista para o jornal The Guardian.

Gostou da reflexão? Como os valores da sua empresa têm a capacidade de ajudar a trazer humanidade para o modelo Donut?

Assista agora ao nosso IGTV sobre o tema:

 


 


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Samantha Macedo

Sócia diretora da Equilibrium, empresa especializada em Inovação em alimentos e marketing., Equilibrium Latam

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