Pesquisa amplia uso de algas marinhas como alimento sustentável

As algas marinhas como alimento sustentável estão no centro de um projeto que reúne instituições do Brasil e da Europa para desenvolver alternativas ao pescado tradicional.
Liderada pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), a iniciativa tem três anos de duração e nasce em um cenário de pressão sobre estoques pesqueiros e demanda crescente por proteínas mais eficientes e de menor impacto ambiental.
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As algas estão entre os organismos aquáticos mais promissores desse movimento: crescem rápido, não exigem água doce ou fertilizantes e capturam carbono, características que ampliam seu potencial como alimento sustentável.
Por que apostar em algas marinhas como alimento sustentável
Segundo a pesquisadora Fabíola Fogaça, coordenadora do projeto no Brasil, as algas oferecem um conjunto relevante de atributos nutricionais. São fontes de fibras, minerais, vitaminas e compostos como ômega-3. Além disso, apresentam vantagens ambientais importantes, que incluem a purificação da água e a contribuição para a recuperação de ecossistemas costeiros.
Mesmo assim, a aceitação sensorial ainda é um obstáculo, especialmente no Brasil. O sabor intenso, a coloração verde e a textura específica limitam o uso em produtos que buscam imitar itens de origem animal. Um dos focos do projeto é justamente aprimorar essas características para ampliar o consumo.
O desafio do sabor e a criação de um atum vegetal
Entre os protótipos em desenvolvimento está um “atum vegetal”, produzido a partir da combinação de algas marinhas com outros ingredientes vegetais ricos em proteínas.
O objetivo é criar um produto enlatado com sabor, aroma e textura semelhantes aos do atum convencional, mas sem colesterol e com menor impacto ambiental.
A expectativa é que esse protótipo esteja pronto para avaliação da indústria ao fim do projeto, acompanhando o avanço do mercado de pescados vegetais, estimado em US$ 2,5 bilhões até 2032.
Rede internacional de pesquisa
O projeto “Avanços na produção de algas como alternativa sustentável ao pescado algae-based na Europa e no Brasil” reúne instituições europeias especializadas em aquicultura, alimentos e sustentabilidade, entre elas:
- NIOZ (Holanda)
- S²AQUA (Portugal)
- ILVO (Bélgica)
- NOFIMA (Noruega)
- Chalmers (Suécia)
- Stratagem (Chipre)
- DTU (Dinamarca)
No Brasil, participam unidades da Embrapa no Rio de Janeiro, Ceará e São Paulo, além de iniciativas de cultivo na Costa Verde fluminense.
Essa cooperação internacional permitirá desenvolver tecnologias para cultivo, processamento, conservação e avaliação sensorial das algas, além de sistemas de produção indoor, capacitações e possíveis patentes.
A pesquisa integra o Sustainable Blue Economy Partnership (SBEP), iniciativa ligada ao programa Horizonte Europa e alinhada às metas do ODS 14 – Vida na Água. No Brasil, recebe apoio da Faperj.
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Bioeconomia azul e impactos para comunidades costeiras
As algas marinhas como alimento sustentável também oferecem efeitos positivos para além da nutrição. Elas contribuem para a mitigação da crise climática ao capturar carbono e podem fortalecer a economia de regiões litorâneas.
Com mais de 8 mil quilômetros de costa, o Brasil tem potencial para ampliar o cultivo e criar novas oportunidades de renda. Para Fogaça, a cadeia de produção de algas pode gerar inovação, trabalho e diversificação para agricultores familiares e comunidades costeiras.
Situação do mercado de algas no Brasil
O cultivo comercial ainda é limitado. Hoje, predomina a produção da espécie exótica Kappaphycus alvarezii, usada pela indústria da carragenana em alimentos e cosméticos. Espécies nativas de Gracilaria são cultivadas em menor escala no Nordeste.
Mesmo com baixo volume, o setor apresenta alto potencial de expansão, impulsionado pela demanda por insumos para as áreas de alimentos funcionais, cosméticos, farmacêuticos e biotecnologia.
Economia Azul: contexto e números
A chamada Economia Azul reúne atividades econômicas ligadas ao uso sustentável dos recursos marinhos. Movimenta cerca de US$ 1,5 trilhão ao ano e pode dobrar até 2030.
Nesse cenário, as algas marinhas têm ganhado destaque: a produção mundial ultrapassou 36 milhões de toneladas em 2022, resultando em um mercado estimado em US$ 2,1 bilhões em 2024.
Do mar à mesa: futuro das algas na alimentação
Com os avanços tecnológicos e a ampliação da pesquisa, as algas marinhas como alimento sustentável tendem a ocupar espaço crescente na indústria brasileira.
O projeto liderado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos busca justamente impulsionar esse movimento, aproximando ciência, mercado e sustentabilidade.
A expectativa é que novas soluções, como o “peixe de alga”, se tornem opções reais nas gôndolas nos próximos anos, trazendo impacto ambiental reduzido, valor nutricional elevado e novas oportunidades econômicas.
Fonte: Embrapa
Imagem: Fabíola Fogaça / Reprodução




