Comida no antropoceno: dietas saudáveis a partir de sistemas alimentares sustentáveis
Você conhece o conceito de “dieta planetária”?
Ela se atenta no impacto do alimento na saúde humana e na sustentabilidade do planeta. Por isso, vamos considerar nesta discussão um papel do comer que vai além do nutrir e torna-se um ato político, envolvendo, portanto, dietas saudáveis a partir de sistemas alimentares sustentáveis, cuja responsabilidade é dos indivíduos e dos governos, coletivamente.
No mundo contemporâneo, acelerar é a regra.. Nessa rapidez da vida cotidiana, acabamos deixando a alimentação no modo automático, sem refletir sobre nossos atos no antropoceno – período dos últimos 70 anos em que o homem interveio em uma escala sem precedentes nos recursos naturais e colocou em risco o nosso ecossistema.
Por isso, faço um questionamento: você já parou pra pensar no caminho que a comida percorre até ser colocada em sua mesa, desde a colheita, armazenamento, processamento, distribuição e preparo? Toda essa cadeia percorrida tem qual impacto ambiental? E para a saúde das pessoas?
Você pode não saber, mas já existem ativistas e organizações que investigam a cadeia alimentar! Alguns são categóricos em apontar que erramos feio em nossas decisões e, do jeito que estamos, não seremos capazes de alimentar, nas próximas décadas, 9 bilhões de habitantes na Terra sem impactos devastadores para o clima e, consequentemente, para a mãe natureza.
Dentre estes erros cometidos estão um sistema insustentável de produção de alimentos longe do local de consumo; indivíduos vivendo em verdadeiros desertos alimentares; produção de carne de forma industrial que absorve grande parte da área e cultivo agrícolas; um sistema agrário dependente de três alimentos: trigo, milho e soja, o que reduz nosso consumo anterior pautado na diversidade cultural e planetária, e, por fim, um processamento da nossa comida com grande quantidade de sal e açúcar.
Estudiosos da nutrição afirmam, portanto, que uma dieta à base de plantas e a diminuição do consumo de alimentos de origem animal são a chave para a diversidade alimentar e a preservação do meio ambiente. Foi por este motivo que cientistas criaram a comissão EAT-lancet, que reúne 37 experts de 16 países para estabelecer metas para que sejam possíveis dietas saudáveis a partir da produção sustentável de alimentos.
A comissão estabeleceu suas metas de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e o Acordo de Paris. Ela mostra o caminho para que seja possível, até 2050, alimentar 10 bilhões de pessoas com uma dieta saudável e dentro dos limites planetários seguros para a produção de alimentos.
Suas ações principais são:
- Mudança global em direção a dietas saudáveis: seria necessário mais do que duplicar o consumo de alimentos saudáveis, como frutas, verduras, legumes e nozes, e reduzir em mais de 50% o consumo de alimentos adicionados de açúcar e carne vermelha.
- Melhores práticas de produção de alimentos: a comissão concentra-se em seis desafios ambientais, como as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, que são os principais sistemas e processos afetados pela produção de alimentos. Assim, ela propõe limites para cada um deles, visando uma produção de alimentos que permaneça dentro de um espaço seguro para o controle de impactos ambientais desfavoráveis.
- Redução de perdas e desperdícios de alimentos: o cenário ideal seria alcançar uma redução geral de 50% nas perdas e desperdícios na produção global de alimentos. Para isso, a comissão propõe o uso de soluções tecnológicas para serem aplicadas em sua cadeia de distribuição, assim como políticas públicas que auxiliem nesse caminho.
Espera-se uma melhora na infraestrutura pós-colheita, no transporte de alimentos, processamento e embalagem, além de treinamento dos produtores e de educação dos consumidores. É claro que para alcançar um sistema sustentável não existem soluções imediatas, é necessário muito trabalho, vontade política e recursos suficientes!
Mas então, quais seriam os passos para a humanidade percorrer nesse sentido?
O artigo da EAT-lancet traz cinco estratégias, confira:
- Estratégia 1: Buscar o compromisso internacional e nacional para alcançar dietas saudáveis. Elas podem ser alcançadas tornando os alimentos saudáveis mais disponíveis, acessíveis, melhorando as informações a seu respeito e o seu marketing, e investindo em educação sobre saúde pública e sustentabilidade.
- Estratégia 2: Reorientar as políticas agrícolas e marinhas. A agricultura e a pesca não devem apenas gerar calorias suficientes para alimentar a população, mas sim produzir uma variedade de alimentos que nutrem a saúde humana e melhorem a biodiversidade.
- Estratégia 3: Intensificar de maneira sustentável a produção de alimentos para aumentar uma produção de alta qualidade. Neste ponto, ressalta-se a importância do cuidado com a terra, fazendo o uso consciente de fertilizantes e da água, além de tratar da saúde do solo, realizando reciclagem de fósforo e nitrogênio.
- Estratégia 4: Uma governança forte e coordenada dos continentes e dos oceanos! Ou seja, cuidar das áreas produtivas que já temos e implementar uma política de expansão zero de novas terras agrícolas. Além disso, é necessário melhorar o gerenciamento dos oceanos para garantir que a pesca não afete negativamente os ecossistemas.
- Estratégia 5: Reduzir ao menos pela metade as perdas e desperdícios de alimentos, de acordo com os objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Sabemos da dificuldade que temos em transformar o modo como consumimos e produzimos os alimentos, mas não é porque se trata de algo complicado que não podemos fazer nada a respeito… Afinal, o planeta Terra também é nosso lar. Para a transformação acontecer, são necessárias mudanças e boa vontade de toda a humanidade. Por isso, a ideia é disseminar conteúdo, relatos e ações para que, aos poucos, essa mudança seja cada vez mais possível.
Mas, e você? Consegue me dizer alguma estratégia que sua empresa pode adotar para que possamos caminhar neste sentido? Incentivar produtores locais? Pensar em inovações que ampliem a diversidade dos alimentos? Educar consumidores para fazerem escolhas sazonais? Escreva nos comentários!