
A revolução das canetas emagrecedoras não está apenas reinventando a indústria da perda de peso, mas também transformando o comportamento da sociedade. Agora, quem entra para o jogo dessa “geração Ozempic” é a indústria de alimentos. Compartilhamos essa tendência observada por nosso time na última Expo West (www.expowest.com) , maior feira de alimentos saudáveis, realizada na Califórnia. Lá testemunhamos o nascimento de uma nova categoria de mercado: os alimentos da “geração Ozempic”.
A mentalidade da dieta aumenta, mas não inventa: do diabetes à proteína
Originalmente desenvolvidas para o tratamento de diabetes tipo 2, substâncias baseadas no GLP-1, como semaglutida (Ozempic) e tirzepatida (Mounjaro), e agora as recém chegadas no mercado, a brasileira Olire com o princípio ativo liraglutida, estão redefinindo o conceito de “food as medicine” — uma tendência, nem tão recente, mas bastante presente.
Paradoxalmente, em uma era de maior compreensão sobre tamanhos de corpos, a perda de peso volta a ser tendência. Explicado melhor a contradição: um estudo recente publicado no The Lancet apresenta uma nova classificação para obesidade, reconhecendo-a como um processo metabólico complexo, e não apenas um estado físico, ampliando classificações rígidas. Isso nos deixa com um pensamento crítico e paradoxal: será possível corpos saudáveis em qualquer tamanho? A ciência diz que sim. E estudiosos apontam que o problema está na inflamação.
No entanto, quem dita as regras do jogo são os desejos insaciáveis do consumidor. E ele deseja, paradoxalmente, ser mais magro. O emagrecimento retorna como tendência.
E o mercado confirma: enquanto a ciência avança para uma compreensão mais detalhada da obesidade e até da longevidade, o mercado global de wellness — que movimenta US$ 6,3 trilhões, de acordo com o Global Wellness Institute — continua sendo impulsionado pela busca estética.
No Brasil, 12ª posição mundial com US$ 96 bilhões movimentados, essa contradição é ainda mais evidente: 68% dos brasileiros acreditam que estarão mais saudáveis nos próximos cinco anos (vs. 52% global), mas frequentemente associam isso à perda de peso.
E agora, ser magro é ser saudável?
Se a perda de peso rápida voltou a ser considerada saúde para o brasileiro, o que eles sabem sobre sarcopenia?
O uso das canetas traz uma preocupação aos especialistas de saúde: a perda de massa muscular — e óssea. A sarcopenia, que acompanha a rápida perda de peso, associada à fragilidade e à limitação de mobilidade, pode reduzir a qualidade de vida — sendo uma consequência irreversível da busca estética sem considerar a saúde integral.
A maior resposta vem da Indústria de Alimentos: Uma Nova Categoria Alimentar
Atenta à evolução da ciência, o setor de “alimentos saudáveis” respondeu com rapidez. E inovações brasileiras serão encontradas logo mais.
A indústria de ingredientes e alimentos percebeu rapidamente a oportunidade e passou a oferecer soluções para os efeitos colaterais dessa nova tendência, como a perda extrema de apetite, a sarcopenia (perda de massa muscular) e a flacidez da pele.
Novos produtos, como shakes proteicos enriquecidos com vitaminas e minerais, sopas e snacks densos em fibras, começaram a surgir, atendendo à necessidade de nutrição funcional e eficiente para aqueles que, embora estejam comendo menos, precisam garantir que seu corpo receba os nutrientes essenciais. Nem tão novos assim, mas agrupados sob uma nova necessidade do consumidor.
Além disso, a indústria de ingredientes tem explorado substâncias menos invasivas e mais direcionadas, que buscam atenuar os efeitos negativos da perda de peso abrupta. Ingredientes como proteínas vegetais e colágeno têm sido reformulados e incorporados a produtos voltados para esse novo consumidor, criando uma linha de alimentos que oferecem funcionalidade e conveniência, sem renunciar à saúde estética e muscular.
O Euromonitor Internacional aponta o conceito de “Healthspan”, de “The Science and Technology of Growing Young”, de Sergey Young. O autor defende que o foco da longevidade deve ser menos sobre “viver mais” e mais sobre “viver melhor por mais tempo” — ou seja, estender o healthspan (período de vida com saúde plena), não apenas o lifespan. como tendência central para 2025 — que prioriza a qualidade de vida por mais tempo, e não apenas a longevidade. Isso se traduz em produtos específicos para os usuários de GLP-1, como shakes proteicos especializados, sopas funcionais e snacks densos em fibras, projetados para otimizar a nutrição em porções menores.
Em um cenário mais inovador, startups como a Voyage Foods (que levantou US$ 94 milhões) exemplificam a inovação, desenvolvendo alimentos que atendem às necessidades específicas de quem experimenta saciedade precoce.
“Ozempic Face” e oportunidades no mercado de Beleza
E junto vêm as #trends, como o “Ozempic Face” — a perda de volume facial devido ao emagrecimento rápido, que originou uma nova categoria de produtos. A solução já é conhecida: a “colagenomania”, como costumo me referir a esse ingrediente. Aliás, até pouco tempo atrás, sua relação com a ciência era controversa, mas a avalanche mercadológica aconteceu após estudos científicos mudarem o cenário de credibilidade.
Nem sempre é o consumidor quem dita as regras. Ou você tem alguma dúvida de que, nesta Wellness Economy, só se faz inovação com respaldo científico e aprovação dos profissionais de saúde?
Mas voltando ao consumidor: A WGSN identificou o perfil “Esperançosos”, consumidores otimistas dispostos a investir em soluções premium para problemas emergentes. Segundo especialistas de lá, o mercado de colágeno, por exemplo, está sendo reformulado com fórmulas específicas para manter a elasticidade da pele durante a perda de peso acelerada.
De acordo com a Box1824, estamos vivendo o conceito de “Luxo Preciso” — a busca por soluções específicas e cientificamente fundamentadas. As canetas emagrecedoras personificam essa precisão, representando uma tecnologia que permite “quebrar as regras” tradicionais de dieta sem culpa.
Para Refletir
Estamos apenas no início dessa transformação. O futuro será definido pela nossa capacidade de integrar os avanços tecnológicos com um entendimento profundo sobre nutrição, comportamento e bem-estar. A geração Ozempic nos desafia a criar produtos que atendam às necessidades emergentes sem perpetuar obsessões prejudiciais.
As empresas que conseguirem equilibrar a inovação científica com a responsabilidade social, criando soluções que priorizem o bem-estar integral — e não apenas a estética — serão as protagonistas não apenas do mercado alimentar, mas também da nossa evolução como sociedade.