Quando falamos em fiscalização sanitária, a reação mais comum é o medo. E isso é compreensível: mesmo cumprindo as normas vigentes, sempre existe a preocupação de que algum detalhe tenha passado despercebido. Afinal, administrar uma empresa envolve muitas demandas e exige atenção a vários aspectos.
Além disso, embora a legislação seja a mesma para todos, alguns pontos podem ser interpretados de maneiras diferentes, o que pode acabar gerando uma tensão no momento da fiscalização. Nestes casos é importante manter uma postura colaborativa, não se trata de enfrentar a autoridade, e sim de, com respeito e embasamento, esclarecer dúvidas e, se necessário, pedir que determinada exigência seja indicada na legislação. Quando a empresa conhece bem seus processos, fica mais fácil dialogar, evitar mal-entendidos e até mostrar, de forma clara, quando uma cobrança não se aplica ao seu caso.
É importante lembrar que, assim como em qualquer área de trabalho, há profissionais com diferentes trajetórias e experiências: alguns têm longos anos de prática, outros estão iniciando no setor, alguns seguem de forma mais rígida normas antigas, enquanto outros possuem uma visão mais atualizada. No fim, todos são pessoas, cada um com seu olhar e sua bagagem profissional.
Desta forma, como qualquer profissional, o fiscal também pode ter diferentes interpretações ou até mesmo cometer equívocos. Ainda assim, durante a inspeção, ele é a autoridade responsável por aplicar as medidas sanitárias previstas em lei e garantir o cumprimento dos regulamentos vigentes.
Portanto, a inspeção não precisa ser um problema, mas é muito importante que a empresa conheça a legislação aplicável, domine seus processos e esteja preparadapara mostrar organização e conformidade. Nesta matéria, vamos ver como se preparar para esse momento, evitando possíveis autuações.
Estrutura física e boas práticas
A autoridade sanitária, ao realizar a inspeção, verifica as condições higiênico-sanitárias e estruturais da empresa. Isso inclui aspectos como ambientes, ventilação, iluminação, fluxograma de produção e a compatibilidade das áreas com as atividades desenvolvidas.
Por isso, o primeiro passo é conhecer as legislações que se aplicam ao seu negócio, tanto municipais quanto federais. Só assim será possível alinhar a estrutura física e os fluxos operacionais às exigências locais e às boas práticas de fabricação.
Detalhes como revestimentos de pisos, paredes e tetos, conservação e instalação de equipamentos, iluminação adequada e ventilação são pontos cruciais para que a empresa esteja de acordo com as normas sanitárias. Pequenas falhas podem gerar grandes transtornos se não forem corrigidas a tempo.
Documentação: o reflexo da realidade da empresa
No que diz respeito à parte técnico-operacional, a empresa precisa estar em dia com a documentação e, aqui está um ponto crucial: os documentos devem refletir a realidade da operação.
O Manual de Boas Práticas e os Procedimentos Operacionais Padrão não podem ser apenas papéis que vão ficar guardados em gavetas ou modelos genéricos comprados prontos. Eles devem retratar fielmente o dia a dia da empresa e servir como ferramentas de gestão e padronização.
Após a elaboração desse material, toda a equipe deve ser treinada para aplicá-los na prática, afinal, o objetivo não é apenas cumprir um requisito legal, mas sim garantir a qualidade e a segurança dos alimentos produzidos.
Além dos documentos relacionados às boas práticas, as empresas também precisam apresentar outros comprovantes que demonstrem a conformidade do estabelecimento. Entre eles, estão registros de controle de pragas, comprovantes da limpeza da caixa d’água, qualificação de fornecedores, entre outros.
Organização e preparo para o momento da fiscalização
Uma empresa bem preparada para a fiscalização demonstra organização desde o primeiro contato com os fiscais. Por isso, toda a documentação deve estar atualizada e de fácil acesso. Uma boa prática é manter pastas organizadas, reunindo os registros técnicos e administrativos da empresa, de forma que estejam sempre à mão para serem apresentados às autoridades quando solicitados.
Outro passo essencial é realizar auditorias internas periódicas. Assim, é possível identificar pontos de melhoria antes que eles se tornem uma não conformidade em uma inspeção oficial.
É fundamental treinar a equipe não somente no momento da implementação, mas também para manter o sistema de qualidade no dia a dia. Todos devem conhecer seus papéis, estar alinhados aos processos da empresa, compreender a política de qualidade e praticar as boas práticas de fabricação. Dessa forma, no momento da inspeção, a postura do time transmite segurança, profissionalismo e compromisso com a conformidade.
Quando ocorrem as fiscalizações?
As fiscalizações podem acontecer em diferentes contextos, geralmente podemos dividir em:
1. No controle pré-mercado
Inclui as medidas adotadas pela vigilância sanitária antes do início das atividades de um estabelecimento ou da fabricação/importação de produtos. Abrange a concessão da licença sanitária e a regularização de produtos. O objetivo é atestar que o estabelecimento cumpre todos os requisitos legais para operar com segurança.
2. No controle pós-mercado
Acontece após o início das atividades da empresa e a comercialização dos alimentos. Avalia se as práticas correspondem ao que está descrito nos documentos e se os controles implementados garantem a segurança e a qualidade dos produtos. Nesse contexto, podem ocorrer inspeções de rotina, monitoramento de amostras de produtos, avaliação das condições de armazenamento e apuração de denúncias.
Em resumo, podemos dizer que, enquanto o pré-mercado olha para as condições estruturais e documentais que permitem o início da operação, o pós-mercado verifica se o que foi planejado está sendo cumprido na prática.
Conclusão
A fiscalização sanitária não deve ser vista como uma ameaça, mas sim como parte do compromisso da empresa com a qualidade e a segurança dos alimentos que oferece ao consumidor.
Manter-se sempre alinhado à legislação vigente, cuidar da estrutura física, organizar a documentação, treinar a equipe e realizar auditorias internas são ações que reduzem riscos e evitam surpresas desagradáveis.