Mais de 80% dos adultos brasileiros ingerem menos fibras que o recomendado, independentemente da faixa etária. Em idosos esse número passa dos 90%.
Apesar do aumento na demanda por produtos proteicos, a oferta de alimentos ricos em fibras não acompanhou esse crescimento, criando uma lacuna entre o consumo ideal e o real.
Embora os produtos ricos em fibras sejam promovidos pelos seus benefícios à saúde, eles podem apresentar problemas de sabor e textura, desencorajando o consumo. Portanto, incorporar fibra nos produtos mantendo sua qualidade sensorial é importante para aumentar a adesão.
O papel do upcycling para suprir a demanda por fibras
A boa notícia é que resíduos da produção de alimentos são excelentes fontes de fibras que, com o devido processamento, podem enriquecer a alimentação. Já falamos de diversos resíduos que passaram por processos de upcycling e se tornaram ingredientes à base de fibras. A fibra prebiótica extraída da borra do café, a fibra dos resíduos da produção de farinha de trigo da Supplant e o ingrediente à base de bagaço de azeitona da produção de azeite da PhenOlives são apenas alguns exemplos de sucesso de upcycling.
US$ 27 milhões para a One Bio aumentar em até 10x o teor de fibras dos alimentos
A startup Norte Americana One Bio (antiga BCD Bioscience), levantou US$ 27 milhões para expandir sua tecnologia proprietária, que transforma polissacarídeos de resíduos agrícolas em fibras “inodoras, incolores e insípidas” permitindo sua adição em alimentos com altas taxas de inclusão sem afetar suas propriedades sensoriais.
Antes de iniciar a produção, a empresa criou um banco de dados chamado Glycopedia, catacterizando as estruturas e funcionalidades de milhares de fibras de plantas. Além disso, a empresa utiliza um simulador in vitro do sistema digestivo humano para testar como cada fibra afeta o microbioma intestinal.

Glycpedia / Imagem: One Bio[/caption]
Atualmente a empresa usa um método químico para desmontar polissacarídeos (carboidratos de cadeia longa) em oligossacarídeos solúveis, digeríveis e palatáveis. O processo – que não altera a estrutura da fibra – é iniciado por uma reação entre um catalisador metálico (ferro) e um agente oxidante (peróxido de hidrogênio). Os oligossacarídeos resultantes são então caracterizados usando cromatografia líquida e espectrometria de massa.
Originalmente desenvolvido como uma ferramenta analítica para “prebióticos de precisão”, o método é escalonável e permite produção em grandes quantidades. A fibra neste estado permite inclusões muito maiores nos alimentos melhorando seu aporte nutricional sem comprometer sabor, cor ou textura dos produtos.
O modelo de negócios
A One Bio atende empresas de alimentos que geram resíduos fibrosos, como fabricantes de proteína ou bebidas vegetais, que descartam ou usam os resíduos, no máximo, como adubo. Para o consumidor que já consome aveia, por exemplo, é fácil explicar que a fibra adicionada à sua bebida equivale a comer cinco tigelas de aveia. Idealmente o consumidor vai consumir uma dieta rica em frutas, vegetais e grãos. Mas se a indústria pode oferecer produtos exponencialmente mais ricos que os que estão hoje nas prateleiras dos supermercados, por que não?

One Bio[/caption]
Para o futuro: uma oportunidade GLP-1
A empresa afirma ainda que suas fibras de cadeia curta podem ajudar a reduzir a dependência de medicamentos GLP-1 como Ozempic, Wegovy e Monjauro, coadjuvantes no controle de peso e diabetes, mas que provocam uma série de efeitos colaterais. A empresa acredita que um microbioma intestinal mais saudável, alcançado com a ingestão ideal de fibras, pode promover saúde e longevidade de forma acessível para todos.
Referências: AG Funder News, Food Business News, Greenqueen, Ganep Educação. Artigo: Closing the Fibre Gap-The Impact of Combination of Soluble and Insoluble Dietary Fibre on Bread Quality and Health Benefits. Artigo: Baixa ingestão de fibras alimentares em idosos: estudo de base populacional ISACAMP 2014/2015