GLP-1 altera dieta dos brasileiros e desafia indústria

O uso crescente de medicamentos da classe GLP-1, como Ozempic, Mounjaro e Victoza, começa a remodelar o comportamento alimentar dos brasileiros. Segundo pesquisa realizada pela Reds Research (grupo HSR), 19% da população já utilizou esses fármacos — indicados para o tratamento de diabetes tipo 2, mas amplamente adotados para perda de peso.
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A pesquisa ouviu 2 mil pessoas em todo o país entre maio e junho de 2025. Os dados mostram que os usuários desses medicamentos consomem, em média, 21% menos alimentos. A mudança, no entanto, não é apenas quantitativa, mas também qualitativa: há uma clara migração para categorias mais premium, convenientes e voltadas ao bem-estar.
Mudanças no consumo alimentar
Entre os alimentos que mais perderam espaço na rotina dos usuários estão ovos (-21%), temperos (-23%) e enlatados (-24%). Também houve queda no consumo de carboidratos tradicionais, como pão (-18%) e macarrão (-12%).
Por outro lado, o estudo identificou um crescimento expressivo em categorias como:
- Bebidas premium: gin (+137%), whisky (+84%) e saquê (+208%);
- Proteínas vegetais: +67%;
- Pratos prontos: +67%;
- Vegetais congelados: +43%.
Esses dados sugerem um paradoxo relevante: mesmo comendo menos, o consumidor GLP-1 busca praticidade e qualidade, favorecendo produtos que combinam nutrição, conveniência e status simbólico.
Um novo perfil de consumo em formação
A pesquisa indica o surgimento de um consumidor mais racional e seletivo. Há preferência por compras mensais planejadas, menor propensão a testar novas marcas e maior foco em custo-benefício — com valorização da qualidade percebida.
Esse novo comportamento exige que a indústria e o varejo repensem estratégias de portfólio e posicionamento. Produtos indulgentes de baixo valor agregado tendem a perder espaço para soluções funcionais, convenientes e alinhadas ao estilo de vida saudável.
Impactos diretos para a indústria de alimentos
Os dados reforçam tendências que já vinham sendo observadas, como o crescimento do mercado de alimentos plant-based e de pratos prontos mais equilibrados. O avanço dos medicamentos GLP-1 intensifica essas mudanças e abre oportunidades para:
- Reformulação de portfólios com foco em porções menores, alto valor nutricional e apelo premium;
- Expansão da categoria de pratos prontos saudáveis;
- Investimentos em inovação de alimentos voltados para saciedade e controle glicêmico;
- Adaptação do varejo com curadoria mais precisa para o novo padrão de consumo.
Para além da estética, uma mudança estrutural
Embora a principal motivação para o uso desses medicamentos seja a perda de peso (42%), a pesquisa alerta para o impacto profundo que eles têm no cotidiano alimentar. Além dos efeitos fisiológicos, como redução de apetite (52%) e perda de peso (37%), há mudanças comportamentais que afetam toda a cadeia de valor do setor alimentício.
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O estudo mostra também que 23% dos usuários utilizam os remédios por conta própria, o que reforça a necessidade de campanhas educativas e orientações médicas para evitar riscos à saúde. Entre os que descontinuaram o uso, os principais motivos foram o alto custo (46%) e o atingimento da meta de peso (23%).
Fonte: Cliente SA
Imagem: Freepik