Bebidas funcionais ganham força no mercado

As bebidas funcionais avançam de forma consistente e se tornam uma das frentes mais dinâmicas do setor de bebidas. Impulsionadas por consumidores que buscam conveniência e benefícios nutricionais, categorias enriquecidas com proteínas, fibras e vitaminas deixam o nicho esportivo e passam a ocupar espaço relevante no varejo alimentar.
O movimento acompanha uma tendência de crescimento acelerado. Segundo a Imarc, o mercado mundial de bebidas funcionais movimenta cerca de US$ 143 bilhões e pode alcançar US$ 238 bilhões até 2033, mantendo taxa anual acima de 8%.
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Grandes empresas ampliam a aposta em bebidas funcionais
No Brasil, a movimentação ficou evidente com os lançamentos recentes da Ambev, que apresentou o Guaraná Antarctica Zero com fibras e um energético com proteínas da linha Fusion. As novidades inauguram a entrada estruturada da empresa no território das bebidas funcionais.
De acordo com projeções do Euromonitor, as bebidas funcionais já geram mais de R$ 1 bilhão por ano no país. Para produtos com apelos de saudabilidade, especialistas estimam margens de lucro de 20% a 30% superiores às das bebidas tradicionais, segundo Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da Gouvêa Consulting.
Consumidor busca benefícios e paga mais por isso
A disposição do consumidor em investir em bebidas funcionais está diretamente ligada ao aumento da busca por energia, disposição e bem-estar, impulsionada também pela circulação de informações sobre saúde nas redes sociais. O desafio, porém, é equilibrar funcionalidade e sabor.
Para Gustavo Castro, diretor de Estratégia e Insights da Ambev, fórmulas enriquecidas exigem forte investimento em pesquisa. A companhia destinou quase R$ 10 bilhões a inovação e capacidade produtiva na última década. As novas bebidas serão fabricadas no CIT da Ambev e na planta de Macacu (RJ), com expansão nacional após testes em São Paulo.
Fibras e prebióticos se tornam protagonistas
Entre os ingredientes que ganham espaço estão prebióticos e fibras, especialmente aqueles com apelo de saúde digestiva. Levantamento da Mintel indica que 57% dos brasileiros que buscam hábitos saudáveis se interessam por produtos que favoreçam o funcionamento intestinal.
A pressão competitiva cresce. A Coca-Cola lançou nos EUA a linha Simply Pop, de refrigerantes prebióticos, enquanto a Pepsi prepara uma inovação semelhante em outros mercados. No Brasil, isotônicos como Powerade reforçam o movimento de bebidas com reposição nutricional.
Lácteos e proteicos ampliam o ecossistema funcional
Outras categorias também se aproximam das bebidas funcionais. A Piracanjuba expandiu seu portfólio com bebidas prontas com chia, quinoa e linhaça, além de proteicos em pó e suplementos voltados a consumidores que utilizam canetas injetáveis para emagrecimento. A aquisição da Emana, em 2024, reforça essa estratégia.
A Verde Campo investe em probióticos enriquecidos com proteínas, como iogurtes e kefir, alinhados à busca por conveniência na rotina de quem consome whey protein.
A Nestlé, pioneira nesse território, segue ampliando sua atuação. Linhas como Puravida e Nutren impulsionaram a popularização de produtos funcionais no país. A empresa lançou recentemente o Nescau Proteína e uma aveia enriquecida com proteínas, e pretende dobrar o número de categorias funcionais até 2026. A divisão Nestlé Health Science receberá R$ 1,3 bilhão na América Latina entre 2025 e 2027.
Foodtechs impulsionam inovação nas bebidas funcionais
O avanço das bebidas funcionais também é impulsionado por foodtechs. A catarinense Pod lançou o primeiro refrigerante prebiótico produzido no Brasil, o Poddi, feito com inulina e polidextrose — fibras associadas à saúde intestinal. A fábrica em Itajaí emprega 30 pessoas e deve faturar R$ 8 milhões em 2025.
A Wondr, fundada pelo economista André Lee, desenvolveu o refrigerante prebiótico Morango & Maracujá, adoçado com stevia e composto por cerca de 15% de frutas. O produto já está presente em mais de cem pontos de venda em São Paulo.
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O que deve guiar a próxima fase do mercado
- Crescimento de bebidas prebióticas e de fibras
- Ampliação das bebidas proteicas prontas para beber
- Formulações sem açúcar com apelos de digestão e imunidade
- Novos formatos combinando energia, reposição e saudabilidade
- Consolidação das foodtechs no desenvolvimento de bebidas funcionais
Benefícios existem, mas não substituem alimentos naturais
Apesar da expansão das bebidas funcionais, nutricionistas reforçam a importância de moderação. A nutricionista clínica Priscilla Primi, mestre pela Faculdade de Saúde Pública da USP, lembra que muitos desses atributos também são encontrados em alimentos naturais, como aveia, frutas, legumes e azeite.
Ela destaca que bebidas enriquecidas continuam sendo produtos industrializados, com potencial presença de conservantes, aromatizantes e açúcares. Por isso, recomenda atenção à lista de ingredientes e às novas “lupas frontais” da Anvisa, que alertam para altos teores de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio.
Fonte: O Globo
Foto de The Design Lady na Unsplash




