Efeito Ozempic impulsiona consumo de proteínas no Brasil

O efeito Ozempic está transformando o comportamento alimentar e movimentando a indústria de alimentos. O avanço dos medicamentos à base de GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, fez com que consumidores passassem a priorizar refeições mais nutritivas e ricas em proteínas — tendência que já chega às estratégias de gigantes como JBS, MBRF e Danone.
Remédios para perda de peso desafiam indústria de alimentos
A mudança tem impacto direto no prato dos brasileiros: a carne e outros alimentos proteicos deixaram de ser coadjuvantes e passaram a ocupar o centro da refeição. De iogurtes com foco em recuperação muscular a marmitas congeladas com até 30 gramas de proteína, o setor vive uma corrida por produtos que entreguem funcionalidade e valor nutricional.
O que está por trás do efeito Ozempic
Os medicamentos análogos de GLP-1 imitam um hormônio natural do intestino que prolonga a sensação de saciedade, reduz o apetite e ajuda na perda de peso. No entanto, o emagrecimento rápido pode levar à perda de massa magra — por isso, médicos e nutricionistas recomendam reforçar o consumo de proteínas durante o tratamento.
Mesmo quem não utiliza os medicamentos embarca nessa tendência. Dietas com menos carboidratos e maior teor proteico já vinham ganhando espaço, mas agora encontram novo impulso com o chamado efeito Ozempic, que redefine a relação do consumidor com a comida.
Indústria se antecipa à nova demanda
Seara aposta em refeições com alto teor proteico
A Seara, marca da JBS, lançou a linha Protein, com refeições congeladas que chegam a 30g de proteína por porção. O produto foi testado com 200 consumidores e é vendido a R$ 29,90 — cerca de 50% mais caro que as versões tradicionais.
“O brasileiro aprendeu a olhar o rótulo. Hoje, a proteína é atributo de destaque — e vai além do público fitness”, explica Rafael Palmer, diretor de marketing da Seara.
Segundo ele, o desenvolvimento começou há mais de um ano, quando a empresa percebeu a transição do consumo de volume para o consumo de valor: “O consumidor que come menos está mais seletivo. Quer o alimento certo e funcional”.
MBRF reforça refeições completas
A MBRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, também aposta no movimento. Sua linha Meu Menu oferece pratos prontos com até 24g de proteína.
“O consumidor quer refeições menores, mais equilibradas e com alto valor proteico”, diz Luiz Franco, diretor executivo de marketing e inovação.
Levantamento da companhia mostra que um em cada três brasileiros consome refeições congeladas ao menos uma vez por semana, enquanto 19,7% priorizam uma dieta saudável e 19,6% valorizam praticidade — dados que sustentam a aposta no segmento.
Danone mira o brasileiro em busca de saúde e equilíbrio
Na Danone, o foco é mais amplo. O portfólio está sendo redesenhado para atender o público que busca bem-estar, esteja ou não em tratamento com medicamentos antiobesidade.
“Essas pessoas vão, em algum momento, buscar mudar seus hábitos, e queremos acompanhá-las”, explica Marcelo Bronze, vice-presidente de marketing da Danone Brasil.
A estratégia passa por produtos multifuncionais, que combinam proteína, fibras, probióticos e baixo teor de açúcar, como as linhas YoPRO, Activia 000 e o recém-lançado Danone 5 Zeros.
“O GLP-1 é um acelerador, mas a tendência é maior: é o brasileiro repensando o que come”, diz o executivo.
Mercado global mostra o futuro da tendência
Nos Estados Unidos, onde o uso de Ozempic e Mounjaro já é disseminado, 12% dos adultos utilizam algum medicamento à base de GLP-1. De acordo com a PwC, os lares com usuários reduziram os gastos com alimentos entre 6% e 11%, e mudaram o perfil de consumo: menos snacks e ultraprocessados, mais alimentos ricos em proteína e fibras.
A Nestlé lançou a linha Vital Pursuit, voltada para consumidores de GLP-1, enquanto a Danone registrou aumento de 40% nas vendas de Oikos, sua marca de iogurtes gregos, impulsionada pelo público que busca opções proteicas e de baixa caloria.
Por que a proteína virou prioridade
O fenômeno é fisiológico: os medicamentos retardam o esvaziamento do estômago, e o corpo “esquece” de pedir comida com frequência. “Se o paciente come menos e não compensa com qualidade, ele perde músculo junto com a gordura”, explica o cardiologista Pedro Farsky.
A nutricionista Lara Natacci, pós-doutora pela USP, recomenda consumir entre 1,2 e 1,6g de proteína por quilo de peso corporal, distribuídas ao longo do dia. “Sem essa reposição, o emagrecimento vem acompanhado de perda de força e imunidade.”
A nutricionista Bianca Naves, autora do livro A Dieta das Canetas, destaca o novo comportamento alimentar: “Esses medicamentos diminuem o prazer imediato da comida. A pessoa come porque precisa, não porque quer. É uma reeducação alimentar acelerada pela química”.
Boom das proteínas redefine a indústria de alimentos
Tendência que veio para ficar
Com o efeito Ozempic, o mercado de alimentos entra em uma nova fase. Gigantes do setor enxergam um público que come menos, mas exige mais qualidade e funcionalidade.
Enquanto o Brasil se prepara para a ampliação do uso dos medicamentos, a corrida pela proteína deve seguir no centro das inovações da indústria — do campo ao rótulo.
Fonte: Invest News
Foto de Sebastian Coman Photography na Unsplash




