Se tem comida de verdade, então tem comida de mentira?
Comer faz parte da natureza humana desde sempre, permeia nossos dias, nossos pensamentos e nossas escolhas!
Durante muitos anos acreditou-se que a máxima “você é o que você come” era a verdade absoluta… hoje em dia, podemos dizer que “você come o que você é”, termo tão bem cunhado pelo sociólogo francês Claude Fishler! De fato, a comida nos diz muito sobre nós mesmos, nossos hábitos, nossa cultura, nossa religião, nosso momento de vida e nossas emoções.
Sabemos que o cenário alimentar mudou muito ao longo dos anos, ganhando diversas dimensões, significados e importância dentro da história e do desenvolvimento da humanidade. Hoje nos deparamos com o “nutricionismo”, um jeito de doutrinar a alimentação das pessoas que vende a ideia de que ao se adicionar nutrientes a qualquer coisa ela se torna um alimento. Esse tipo de abordagem acaba se esquecendo de que os aspectos biopsicossociais da alimentação são fundamentais nas escolhas e no comportamento alimentar.
Se há alguns séculos os ingredientes eram tão ou mais valiosos que o próprio dinheiro, sendo motivo de disputa, guerras, desbravamento de novos territórios e conquistas, como algumas especiarias, por exemplo, hoje eles já fazem parte do cotidiano a preços inclusive discutíveis, especialmente quando se leva em conta todo o processo produtivo. Independentemente do julgamento de preço e valor de um alimento, esse é um grande indício de como a nossa relação com os alimentos mudou!
No lugar de grandes nações, temos os “gigantes” da indústria com seus conglomerados de marcas e skus, batalhando pela atenção, bolso e preferência do consumidor. Os alimentos foram democratizados com os processos industriais, tornando-se mais seguros, mais duráveis, conseguindo chegar até locais onde antes não era possível. Tudo graças às embalagens e à tecnologia, que têm um fator fundamental em toda essa democratização, pois permitem a conservação, armazenagem e segurança no consumo de muitos alimentos.
Mas por outro lado, são duramente criticadas por conta do seu impacto ambiental, afinal a sustentabilidade anda em foco e todos os pontos da cadeia produtiva e industrial são alvo desta análise. Mais um desafio para a indústria, como conciliar as embalagens mais sustentáveis, unindo custos viáveis e sua funcionalidade? Mas esse é assunto para um outro texto… O fato é que com toda essa democratização muitos se afastaram do que foi (erroneamente) intitulado “comida de verdade”, e foi aí que chegamos a uma nova discussão: o que é comida de verdade? Por que a tecnologia, o processamento e as embalagens fazem com que a comida deixe de ser “de verdade”? Seria ela então, em algum momento, comida “de mentira”? Ou seria apenas COMIDA dentro de uma embalagem e que passou por um processamento para que pudesse ser mais acessível?
Desde 2014, o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde, vem recomendando fortemente o resgate do cozinhar, a diminuição do consumo de alimentos ultraprocessados e a valorização de alimentos regionais. Estimular o resgate de nossa ligação com a comida, essa relação tão ancestral e que nos acompanha há tantos anos, se faz necessário, sim. Se “comemos o que somos”, não podemos deixar de nos envolver com essa parte fundamental do nosso eu. Porém, sabemos que os alimentos industrializados têm o seu papel e sua função em nossa sociedade, seja pela democratização do alimento em si ou por todo o sistema econômico que permeia a produção, distribuição e comércio de alimentos.
Te convido a uma reflexão ponderada, levando em conta todos os pontos envolvidos na questão do comer, para que possamos quebrar essa barreira dicotômica do “saudável” e “não saudável” e do “permitido” e “proibido”, que muitas vezes são dois lados da mesma moeda. Diante desse debate fervoroso que nos acompanha, ouvimos muito sobre as “superfoods”, que “açúcar vicia”, que “comida é remédio”, que “gordura mata” e tenho certeza de que você já ouviu muitos outros juízos desse tipo. Termos que certamente nos deixam horrorizados, pois tratam apenas do lado nutricional do alimento.
Aproveito esse texto para te apresentar os conceitos da Nutrição Comportamental, uma abordagem cunhada pelo Instituto de Nutrição Comportamental, do qual sou uma das idealizadoras. Trata-se de um novo olhar para a nutrição, que resgata todos os significados da comida, já que nutrientes podem ter definições, mas a COMIDA, ah! Essa sim, tem MUITOS significados. A Nutrição Comportamental acredita que “por que e como se come é tão importante quanto o que se come”! E que todos os alimentos podem ter espaço em uma alimentação saudável, respeitadas as questões de quantidade e frequência! Que a nutrição pode ser mais inclusiva, holística e que o SER humano é sempre mais importante que o CORPO humano.
Os profissionais da saúde e a indústria devem se unir em busca de uma comunicação mais positiva sobre a comida, papel fundamental para a mudança de comportamento do consumidor e de toda a sociedade.
Vamos então falar apenas sobre COMIDA, seja ela qual for, afinal, para cada um ela tem um significado, uma história, uma lembrança! Vamos começar a relembrar todos os outros papéis que envolvem o ato do COMER?
Saiba mais em: www.nutricaocomportamental.com.br ou pelo livro Nutrição Comportamental (ed Manole), 2019.
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Comer faz parte da natureza humana desde sempre, permeia nossos dias, nossos pensamentos e nossas escolhas! Durante muitos anos acreditou-se que a máxima “você é o que você come” era a verdade absoluta… hoje em dia, podemos dizer que “você come o que você é”, termo tão bem cunhado pelo sociólogo francês Claude Fishler! De fato, a comida nos diz muito sobre nós mesmos, nossos hábitos, nossa cultura, nossa religião, nosso momento de vida e nossas emoções.
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#BHBFood Uma publicação compartilhada por BHB Food (@bhbfood) em 28 de Mai, 2020 às 1:58 PDT