Marcas chinesas ampliam atuação no food service brasileiro

Durante o Seminário Empresarial Brasil-China, realizado em abril, marcas líderes da indústria chinesa de alimentos e tecnologia anunciaram investimentos robustos no Brasil. A movimentação evidencia o fortalecimento das relações comerciais entre os dois países e sinaliza oportunidades estratégicas para o setor nacional de alimentos, bebidas, ingredientes e food service.
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Segundo a ApexBrasil, os acordos firmados somam cerca de R$ 27 bilhões em aportes, com destaque para redes de alimentação rápida, plataformas de delivery e cadeias globais de suprimentos. O anúncio oficial foi feito pelo presidente da agência, Jorge Viana, e contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita oficial à China.
Mixue traz demanda por ingredientes e novos canais de distribuição
A Mixue Ice Cream & Tea, considerada a maior rede de fast food do mundo em número de unidades (mais de 45 mil), anunciou investimento de R$ 3,2 bilhões para iniciar operações no Brasil até 2030. A estratégia inclui a abertura de lojas e a geração estimada de 25 mil empregos.
Além da expansão do varejo físico, a entrada da Mixue pode impactar diretamente a cadeia de fornecimento de ingredientes. A empresa confirmou que passará a adquirir frutas brasileiras para uso em seus sorvetes e bebidas geladas — incluindo chás e produtos inspirados em bubble tea, categoria que cresce globalmente e vem ganhando espaço entre os consumidores brasileiros.
O movimento abre oportunidades para produtores e processadores de ingredientes naturais, extratos, aromas e aditivos voltados para bebidas funcionais e sobremesas geladas. Também reforça o protagonismo do Brasil como fornecedor estratégico de matérias-primas para redes globais de food service.
Keeta aposta em delivery e reformula a disputa entre plataformas
Outra operação de destaque vem da Meituan, gigante chinesa de tecnologia e líder no setor de entregas na Ásia, que estreia no Brasil com a marca Keeta. A plataforma já opera em mercados como Hong Kong e Arábia Saudita e, agora, pretende investir R$ 5,6 bilhões em cinco anos para conquistar espaço no mercado brasileiro.
O plano inclui a instalação de uma central de atendimento no Nordeste, com 3 mil a 4 mil empregos diretos, e a criação de uma base operacional nacional. A chegada da Keeta deve reconfigurar a disputa entre as grandes plataformas de entrega — hoje dominada por iFood e Rappi — e abrir novas rotas de escoamento para marcas de alimentos, bebidas e suplementos.
Para a indústria, isso pode representar mais opções logísticas, maior capilaridade no delivery de produtos refrigerados e funcionais, além de canais alternativos de relacionamento com o consumidor final.
Sinais de transformação para o ecossistema de alimentos e bebidas
Embora os investimentos anunciados incluam setores como mobilidade elétrica e semicondutores, o volume de recursos destinados às áreas de alimentos, bebidas e logística de consumo chama atenção. As movimentações de marcas como Mixue e Keeta reforçam:
- a importância do Brasil como hub de fornecimento de ingredientes naturais;
- a maturação do mercado para novos modelos de food service com apelo jovem e acessível;
- e a necessidade de integração entre canais físicos e digitais na distribuição de alimentos e bebidas.
Além disso, o fortalecimento de parcerias internacionais pode acelerar o desenvolvimento de produtos com perfis nutricionais otimizados, novas funcionalidades e formulações adaptadas ao paladar e aos hábitos locais.
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Novo cenário
O avanço de gigantes chinesas no Brasil reposiciona o país como peça estratégica na geopolítica global dos alimentos — tanto como consumidor quanto como fornecedor. Para a indústria nacional, o cenário é promissor: há espaço para inovação, desenvolvimento de novos ingredientes e expansão das parcerias comerciais em uma cadeia mais integrada e sustentável.