Vida Veg cresce com agro plant-based e mira R$ 300 milhões

O mercado plant-based brasileiro segue em rápida expansão. Em 2023, o setor cresceu 42%, movimentando R$ 1,2 bilhão. A expectativa global é ainda mais ambiciosa: US$ 370 bilhões até 2035. No Brasil, a Vida Veg se consolida como uma das principais protagonistas desse movimento, com produção própria, foco em clean label e planos de faturar R$ 300 milhões até 2028.
Fermentação impulsiona nova era de proteínas alternativas
Criada em 2016, a empresa nasceu a partir da percepção de Álvaro Gazolla sobre o avanço da alimentação vegetal no exterior. Ex-sócio da Verde Campo — marca vendida posteriormente à Coca-Cola — Gazolla aprofundou seu olhar para o setor durante uma imersão de 10 meses na Califórnia, considerada o berço do movimento plant-based. Desde então, a Vida Veg tem crescido, em média, 120% ao ano e fechou 2024 com faturamento de R$ 85 milhões.
A estrutura da empresa, sediada em Lavras (MG), conta com fábrica própria e capacidade produtiva para mais de 200 toneladas por mês. Diferente de outras indústrias que terceirizam sua produção, a Vida Veg mantém controle total sobre a cadeia. As principais matérias-primas utilizadas são castanha de caju, coco, aveia, grão-de-bico e amêndoas — sendo estas últimas importadas do Chile.
Do campo à inovação: um agro diferente
Embora atue com produtos vegetais, Gazolla é categórico ao afirmar que a Vida Veg é uma empresa do agronegócio. “Toda nossa matéria-prima vem do agro. Só que estamos conectados a uma nova tendência de consumo”, destaca.
Na comparação com o setor lácteo tradicional, o fundador cita as vantagens operacionais do modelo plant-based. “O produtor de leite trabalha sete dias por semana. No nosso caso, lidamos com ingredientes menos perecíveis e temos mais flexibilidade logística e operacional”, explica.
Ele usa como referência a Califórnia, maior produtora de amêndoas do mundo. “Há 20 anos, eles produziam leite. Hoje, o produtor californiano que migrou para a amêndoa não quer voltar. Teve ganho de valor agregado e qualidade de vida. O Brasil precisa enxergar isso com mais clareza”, afirma.
Qualidade nutricional acima da origem
Para Gazolla, o futuro da nutrição passa por proteínas de alto valor biológico — seja vegetal ou animal. “As pessoas querem qualidade nutricional. Ainda há pouco conhecimento sobre absorção e biodisponibilidade de proteínas, mas vejo os dois mercados caminhando em harmonia”, analisa.
Ele acredita que os mitos sobre a inferioridade da proteína vegetal devem perder força, especialmente frente a fatores como sustentabilidade, rastreabilidade e menor impacto ambiental.
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Tendências: menos imitação, mais originalidade
Uma mudança de comportamento no consumidor também está moldando a nova geração de produtos plant-based. “Houve um excesso de produtos tentando imitar carne. Isso está ficando para trás. O consumidor quer proteína de qualidade com rótulo limpo, sem excesso de aromas e aditivos”, observa.
Na visão do empresário, o hype de marcas como a Beyond Meat não se sustentou porque partiu de um modelo baseado em imitação. “As empresas não querem mais fazer vegetal com gosto de carne. Esse mercado tende a desacelerar”, afirma.
Outro fator relevante na equação de crescimento do setor é o custo. “Nos EUA, a proteína vegetal já é mais barata do que a animal. O leite de aveia, por exemplo, tem custo menor e atende mais perfis de consumidores, o que facilita o estoque e melhora o serviço”, relata.
Desafios do plant-based no Brasil
Apesar do potencial, o segmento enfrenta obstáculos importantes no Brasil — principalmente na carga tributária. Segundo Gazolla, há uma diferença de até 35% nos tributos entre bebidas vegetais e lácteas. “Nos EUA e na Europa, há isonomia. Em países como Espanha e Inglaterra, as redes varejistas já têm marcas próprias plant-based”, destaca.
A expectativa da Vida Veg é romper essa barreira nos próximos anos, ampliando o acesso e a competitividade no mercado nacional. Com metas de faturar R$ 100 milhões em 2025 e triplicar esse número até 2028, a marca já estuda possibilidades de expansão internacional e não descarta um IPO no futuro.
Fonte: Money Times
Imagem: Reprodução