Proteína doce pode substituir o açúcar na indústria

A busca por alternativas ao açúcar ganhou um novo capítulo com o avanço de pesquisas brasileiras em biotecnologia alimentar. Um dos principais focos é a taumatina, uma proteína doce natural, até 3 mil vezes mais doce que a sacarose, mas sem calorias, agora com potencial de ser produzida em laboratório a partir de microrganismos modificados.
Redução de açúcar transforma a indústria alimentícia
A proposta é parte da Plataforma Biotecnológica Integrada de Ingredientes Saudáveis (PBIS), projeto que reúne instituições públicas e privadas sob liderança do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e financiamento da FAPESP. A iniciativa busca soluções práticas para os desafios da indústria de alimentos, com destaque para ingredientes mais saudáveis e sustentáveis.
O que são proteínas doces e por que elas importam
As proteínas doces, como a taumatina, ativam os receptores do sabor doce nas papilas gustativas, mas não são carboidratos e nem elevam o índice glicêmico. Encontradas naturalmente em frutas africanas, essas proteínas oferecem uma alternativa interessante ao açúcar e aos adoçantes artificiais.
Apesar do potencial, a extração da taumatina diretamente da planta Thaumatococcus daniellii enfrenta barreiras como baixo rendimento, dificuldades de cultivo e logística complexa — o que limita a escalabilidade industrial e encarece o ingrediente.
A solução está nos fungos
Para superar esses desafios, a equipe da Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP), liderada pelo Dr. Fernando Segato, está desenvolvendo uma nova rota tecnológica: a produção de taumatina por fermentação de precisão. O fungo Thermothelomyces thermophilus foi escolhido como plataforma para a síntese da proteína, substituindo a planta como fonte.
O processo envolve engenharia genética e biologia sintética para que o fungo atue como uma fábrica celular. A ideia é produzir grandes quantidades de taumatina em poucos dias, com alta previsibilidade e menor impacto ambiental.
Resultados promissores e potencial industrial
A principal vantagem dessa abordagem está na eficiência: enquanto a planta oferece miligramas de proteína por quilo de fruta, o processo com microrganismos pode gerar gramas por litro de cultivo — um ganho exponencial em rendimento e viabilidade.
Além disso, a produção em laboratório dispensa o uso de grandes áreas agrícolas e reduz a dependência de importações, fortalecendo a autonomia da indústria nacional de ingredientes.
Perspectivas para a indústria de alimentos brasileira
Hoje, a maior parte das proteínas doces disponíveis no Brasil é importada. Com o desenvolvimento de plataformas nacionais para sua produção, a indústria ganha acesso a soluções mais acessíveis, sustentáveis e tecnológicas.
A adoção da taumatina produzida por fermentação pode viabilizar o uso desse ingrediente em diversas categorias — de bebidas a laticínios e panificados — contribuindo para a redução de açúcares adicionados e o atendimento a demandas de consumidores cada vez mais atentos à composição dos produtos.
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Ciência aplicada e inovação aberta
A pesquisa com taumatina exemplifica o impacto positivo da inovação aberta, modelo que conecta universidades, empresas, institutos de pesquisa e governo em torno de objetivos comuns. No caso da PBIS, esse modelo vem permitindo avanços científicos com aplicação direta na cadeia de alimentos.
A produção de proteínas doces por biotecnologia representa mais do que uma inovação técnica: é um passo estratégico rumo a uma alimentação mais saudável, eficiente e conectada às necessidades do planeta e das pessoas.
Fonte: pbis.org.br
Foto de Ryan Vargas na Unsplash