Suplementos ganham espaço e movimentam indústria nacional

A indústria brasileira de suplementos alimentares vive um momento de forte expansão. Em 2024, o setor registrou aumento de 2,4% no consumo aparente, com crescimento na produção local, nas importações e na geração de empregos, segundo a ABIAD (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres).
Produtos como proteínas, vitaminas e aminoácidos já fazem parte da rotina de milhões de brasileiros e movimentam desde startups até grandes empresas. O consumo de vitaminas cresceu 9,3% e o de proteínas concentradas subiu cerca de 3% em comparação com 2023.
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Brasil lidera consumo de whey na América do Sul
O whey protein segue como o suplemento mais consumido no país. Segundo a consultoria Mordor Intelligence, o Brasil responde por 58% do mercado sul-americano e deve manter taxa média de crescimento de 8% ao ano até 2029.
A Sooro Renner, maior processadora de soro de leite da América Latina, investiu mais de R$ 600 milhões nos últimos cinco anos para ampliar sua capacidade e atender à demanda. Com unidades no Paraná e no Rio Grande do Sul, a empresa produz quase 100 mil toneladas por ano. Em sua mais recente expansão, passou a fabricar 3 mil toneladas mensais de permeado de soro, ingrediente com alto teor de lactose usado como fonte energética.
“A produção de permeado é um reflexo direto da expansão do setor. O mercado deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos”, afirma Cláudio Hausen de Souza, diretor da Sooro.
Piracanjuba amplia portfólio e investe em nutrição
A Piracanjuba também entrou no segmento há sete anos e, desde então, expandiu sua atuação. Hoje, ocupa o segundo lugar em vendas de bebidas com alto teor de proteína. Para atender à demanda, triplicou a produção de whey em embalagens de 250 ml e distribui os produtos a partir de sete unidades fabris, que processam mais de 6 milhões de litros de leite por dia.
Em 2024, a empresa reforçou sua presença no setor com a compra da Emana, marca de suplementos que atua com vitaminas, cápsulas, proteínas, shots e gomas funcionais. A meta é ampliar o acesso a suplementos no varejo, com maior presença em supermercados.
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Cultura do bem-estar impulsiona tendência global
Um estudo da Rede de Observatórios do Sistema Indústria indica que a “cultura do bem-estar” deve moldar o comportamento de consumo até 2040. Essa mudança impulsiona a inovação em ingredientes, tecnologias de produção e novos formatos de entrega nutricional.
“O estudo permite antecipar cenários e alinhar estratégias para maior resiliência da indústria”, afirma Marcello Pio, do Observatório Nacional da Indústria.
Crescimento econômico e impacto no mercado de trabalho
A expansão do setor refletiu também no mercado de trabalho. Em 2024, houve um aumento de 4,4% nas contratações, com mais de 4,3 mil novos postos de trabalho. Já as importações somaram US$ 1 bilhão, com destaque para o crescimento de 66,7% na entrada de concentrados de proteínas e 15,6% em vitaminas.
“O ano foi marcado por investimentos em pesquisa e novos ingredientes, fortalecendo a confiança do consumidor e consolidando o setor”, diz Gislene Cardozo, diretora executiva da ABIAD.
Consumo seguro ainda é desafio para o setor
Apesar do crescimento, especialistas alertam para o consumo sem orientação. “Há um uso indiscriminado de suplementos, principalmente após a matrícula na academia. É comum a automedicação, motivada pela facilidade de acesso à informação”, alerta a nutricionista Michelly Dossi, da Federação Nacional de Nutrição.
Segundo ela, a suplementação deve ser recomendada por profissionais, após avaliação individual. “Nem todo mundo precisa suplementar. Excesso ou falta de nutrientes pode causar desequilíbrios sérios”, afirma.
Cânhamo: potência proteica e nutricional para suplementos
A especialista também chama atenção para a segurança dos produtos. Em 2023, 48 marcas de whey protein foram retiradas de circulação por suspeita de adulteração. Segundo a Abenutri (Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais), os casos envolviam ingredientes fora do padrão declarado.
Dados da CNI mostram que a venda de produtos não conformes cresceu nos últimos três anos, especialmente no comércio digital. “É fundamental checar a regularização das marcas junto à Anvisa”, reforça Michelly. “A suplementação pode ser benéfica, mas precisa estar alinhada a uma conduta responsável de saúde.”
Fonte: Portal da Indústria
Foto de Kelly Sikkema na Unsplash