O melhor chocolate sem cacau pode vir de resíduos de café?

À medida que os preços do cacau e do café atingem níveis recordes, uma startup brasileira aposta na inovação sustentável para transformar resíduos da indústria cafeeira em uma alternativa viável ao chocolate tradicional. A Cellva Ingredients, sediada em São Paulo, desenvolveu um ingrediente inovador, o CoffeeCoa, que pode substituir até 70% do cacau em diversas formulações alimentícias, reduzindo custos e impactos ambientais.
Futuro da alimentação: carne, café e cacau estão em risco?
Uma solução para um problema crescente
O Brasil, maior produtor mundial de café, também gera milhões de toneladas de resíduos orgânicos anualmente. Cascas externas da cereja do café, película prateada dos grãos e outros subprodutos são frequentemente descartados, apesar de possuírem alto potencial de aproveitamento industrial. Paralelamente, a indústria do cacau enfrenta desafios ambientais e econômicos significativos, como desmatamento, emissões de carbono e instabilidade nos preços da commodity.
Com uma abordagem inovadora, a Cellva propõe uma solução que endereça ambos os problemas simultaneamente. O CoffeeCoa não apenas reduz o desperdício da cadeia do café, mas também oferece uma alternativa ao cacau que mantém as qualidades sensoriais do chocolate convencional, com um perfil naturalmente doce e rico em antioxidantes.
Como o CoffeeCoa é produzido?
O processo desenvolvido pela Cellva envolve a extração bioativa das cascas do café, seguida de microencapsulação para garantir estabilidade e preservação dos compostos funcionais. O resultado é um ingrediente sustentável e versátil, que pode ser incorporado a chocolates, panificados, bebidas e suplementos. Além de replicar sabor e textura do cacau, o CoffeeCoa agrega benefícios nutricionais, como maior teor de fibras e antioxidantes naturais.
Sustentabilidade e impacto na indústria
A Cellva afirma que sua inovação pode gerar uma economia anual de US$ 435 milhões para a indústria alimentícia, atendendo tanto ao setor de confeitaria quanto ao de nutracêuticos. Além disso, a adoção desse ingrediente pode reduzir significativamente as emissões de carbono associadas à produção de chocolate, tornando-o uma escolha alinhada às tendências globais de sustentabilidade e clean label.
A empresa já garantiu mais de US$ 1 milhão em contratos de interesse com clientes B2B e está expandindo sua capacidade produtiva na Bahia, região que ironicamente é também o maior polo de produção de cacau do Brasil. Com novos fornecedores e parceiros estratégicos, a Cellva visa consolidar sua presença no mercado global de ingredientes alternativos.
O futuro do chocolate pode não depender do cacau
O cenário global da produção de cacau está cada vez mais incerto, com estoques em queda e preços em ascensão. Grandes players do setor, como Lindt e Mondelēz, já buscam alternativas de baixo carbono para garantir a continuidade da produção de chocolates. Nesse contexto, soluções como o CoffeeCoa surgem como uma oportunidade para reformular produtos sem comprometer sabor, textura e apelo ao consumidor.
Casca do café pode substituir cacau e reduzir custos
A Cellva também atrai o interesse de investidores, tendo já levantado US$ 1,7 milhão e atualmente expandindo sua rodada de financiamento para US$ 4,6 milhões. O capital será direcionado para ampliação da produção e desenvolvimento de novas aplicações, reforçando seu posicionamento como uma empresa de inovação alimentar sustentável.
Com uma tecnologia que une funcionalidade, sustentabilidade e viabilidade econômica, o CoffeeCoa representa um novo capítulo para a indústria de chocolates e ingredientes. Se a tendência se consolidar, o futuro do chocolate pode estar mais ligado ao café do que jamais imaginamos.
Fonte: greenqueen.com
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